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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dinorah



Dinorah, filha de Agar, era uma das mais belas mouras de todo o Algarve muçulmano. Vivia num belíssimo palácio de mil colunas finas de mármore rosa, rodeada de coxins de sedas coloridas e macias como um roçar de asa de pomba. Jardins de maravilha haviam sido plantados para encantar os seus olhos negros. Riachos transparentes saltitavam de calhau em calhau num rumorejar de música constante.
E, contudo, Dinorah chorava. Era como se uma tristeza infinda, inexplicável, se tivesse instalado no seu coração. E Dinorah chorava por estar encerrada. Dinorah chorava, afinal, aquela sua solidão irremissível; chorava-lhe o coração para amar, sem ter a quem amar. Por isso os seus olhos negros, negros como um céu onde a lua nunca passeou o luar, eram tristes.
Numa tarde de Primavera, começavam as amendoeiras a florir, estava Dinorah no seu balcão, passeando os olhos tristes e negros pelo desabrochar da natureza. Foi quando passou um trovador que, ao ver tanta melancolia, lhe perguntou, cantando, como a poderia alegrar. E Dinorah respondeu:
– Ah, trovador, trovador!… Se me puderes ajudar, dá-me um véu para noivar…
Ouvindo estas palavras, partiu o cavaleiro a galope, ficou Dinorah a chorar.
Mas mouro com cristão não deve falar e a Alá não agradou este breve instante. Por isso decidiu, logo ali, aqueles dois castigar.
Chegou a noite e cobriu com o seu manto todas as coisas da terra. A essa mesma hora, uma voz dulcíssima soou, cantando trovas velhinhas. E nessa noite Dinorah dormiu tranquila e em paz porque sabia já não estar só.
Ao acordar, pela manhã, os olhos negros da moura brilhavam. E quando chegou à janela viu acenar-lhe o braço incansável do trovador da noite, e tudo, tudo à volta deles eram pétalas brancas de noivar. Estendeu, também ela, o braço para num aceno agradecer mas, neste gesto, viu-se transformar em fonte e o seu trovador mudar-se em lago.
Desde então, andam juntos a correr para o mar e todos os anos, pela Primavera, Alá manda-lhes as flores de amendoeira para que possam noivar.

sábado, 8 de maio de 2010